Se você fosse de papel estaria rabiscado, amassado, sujo de resto de borracha, pois essa página eu escrevi e apaguei. Quero me lembrar dela, da primeira vez, quero me lembrar quando ler daqui a alguns anos o que eu pensava, e não o que eu queria que fosse lido. E escrevendo estas linhas de agora, me dei conta de que tudo que eu escrevi antes, foi para isso. Ser o que eu pensava, o que eu queria, o que eu sou. A gente se prende num fantasma publicitário da vida perfeita de margarina (isso tem vários níveis diferentes), ou para usar uma metáfora mais rebuscada na alegoria da caverna de Platão. Projetamos nossa sombra como queremos que seja vista. Penteamos nosso cabelo como queremos dar a impressão às outras pessoas. Escrevemos como queremos que entendam. Eu sei que como ser social se fazer entender é importante, mas às vezes isso cansa.
Para entender, eu gosto de não me preocupar com o que vestir, isso é diferente de dizer que eu não me preocupo, mas eu gosto de estar à vontade. Se você tocar a campainha depois das 18h ou 20h, ou 22h, dependendo do dia, vou estar com chinelos, uma bermuda de andar em casa, e uma camiseta de andar em casa. Sim, de andar em casa, que são as melhores, sempre. Agora, se eu tiver na agenda alguém marcado, ou precisar sair para ver um cliente, eu gosto de sapato, calça social e camisa. Há alguns anos, eu desenvolvi a teoria da tríade profissional Conhecimento x Idade x Aparência. Essa teoria diz que em determinados espaços da Matrix, para você ocupa-los, você precisa de ao menos 2 destes aspectos. Já comprovei diversas vezes que ela funciona, mas nem sempre tenho saco para fazer. Por isso, às vezes, vou ao shopping ou outro lugar como ficaria em casa, ou como iria tomar um sorvete aos 15 anos (bermuda, chinelo e regata). A aparência em alguns casos vai além. Se você for médico, não pode ficar doente; se for professor, não pode ter dúvidas; se for espírita, não pode ser não sei o que, se for tal coisa não pode ser outra tal coisa. Ham?
Ontem, antes de dormir, minha mente fervilhava com mil ideias, empolgado, hoje pela manhã eu precisava de colo. E daí comecei a pensar nessas questões.... E me dei conta de que não se permitir SER HUMANO, é não se permitir crescer. Todos temos dificuldades, todos temos motivos para sorrir, todos temos que começar a nos preocupar mais em como estamos gerando quem somos e entender mais a questão útil das experiências e das experiências com as pessoas.
Se você me encontrar indo ao mercado da esquina depois das 18h, pode ser que não me contrate para uma palestra. Pode ser que se eu reclamar de uma meta não atingida ou uma dificuldade, alguém não me chame para ajudar a superar a própria. Pode ser mil coisas, mas antes de poder ser, eu prefiro SER, efetivamente, ser. Cada detalhe nos faz quem somos, faz nossa essência. Vejo muitos clientes, e até eu mesmo, abandonando alguns projetos por levar demais em conta a necessidade de lógica entre o parecer e o ser. Se eu sou, que eu seja, se eu pareço, bom, daí já é algo que as outras pessoas precisam resolver com elas, a final de contas, entre ser e parecer, existe a diferença entre o objeto e aquele que olha para o objeto. A manhã de hoje, e a noite de ontem, me disseram que independente das aparências, ser, é o melhor remédio, SER HUMANO em essência, ser firme na hora de ser firme, dizer não na hora de dizer não, e quando quiser, vestir a roupa de ficar em casa, aquela que te permite ter colo, ser frágil e tudo o mais que você for, enquanto não está sendo quem você parece ser.