Porque eu não nasci com olhos
coloridos? Minha mãe conta que essa era uma das perguntas que eu fazia quando
eu era pequeno. Meus dois irmãos, um irmão e uma irmã, ambos tem olhos
coloridos, e para sacanear, o dele é azul e o dela é verde. Tanta criatividade
genética e um filho com um olho de cada cor. Fora isso não dá para reclamar
muito, pois os outros detalhes são bem parecidos. Com exceção da minha irmã que
tem cabelos, somos parecidos.
Se você não cresceu em uma
família com irmãos não sabe como o amor e o ódio podem andar juntinhos desde
bem cedo. Não sabe o que é ter que ficar dizendo “para” e nem o que é “quem
parte e reparte é bobo ou não tem arte” ou “reparta irmãmente”. Irmãos são
nossos primeiros amigos, e no meu caso, como eles eram mais velhos, os primeiros
colegas a fazerem bulling com a gente!
Eu amo meus irmãos. Já disse isso
a eles diversas vezes. Não perco tempo com pequenas mágoas do nosso crescimento,
eles cresceram, eu cresci. Como eles cresceram primeiro, é provável que eu
tenha sido o mais infantil dos três na nossa relação, ou não, vai saber, cada
um cresce um pouco mais em um aspecto ou outro.
Mas porque todo esse proseio sobre
irmãos? É que eles são tão iguais e tão diferentes da gente que são o primeiro
ponto de comparação. Quando a gente sobrevive a essa comparação, paramos de nos
comparar com o resto do mundo.
Somos o que somos, com olhos
castanhos, verdes ou azuis. Tanto faz. Fazemos o possível com o que temos. Fora
do que somos, não podemos nada. E é entre nossos irmãos que vamos descobrindo
nossa forma de ser, eles nos testam, nos atestam, e às vezes, nos aprovam, ou
desaprovam. São laços tão fortes que é preciso muita bravura para ir contra
algumas vezes, para fazer diferente, para ser diferente. Eu sou grato aos meus
irmãos, me ensinaram muito, mesmo usando lentes de outras cores para ver o mundo.