Todo mundo nasce com um espírito! Alguns até meio trevosinhos, mas ninguém nasce espiritualista. Nossa noção de mundo vem dos nossos pais, das pessoas que nos cercam e das experiências que vamos vivendo. E como todo mundo, eu não nasci espiritualista.
Se faz muito tempo que você não me vê, tipo uns 15 anos ou mais, não vai entender nada do que estou falando, mas eu explico. Eu cresci assustado com o mundo, meus pais sempre estiveram focados em possibilitar uma vida melhor para mim e meus irmãos, sou grato por isso. Assustado com o que? Com o mundo! Eu não entendia porque haviam pessoas que me atraiam e pessoas que eu me sentia repelido. E como diz a música, não entendia como a vida funcionava.... Então, para entender, senta que lá vem história...
Minha família por parte de pai é Luterana. Minha família por parte de mãe é Católica. Por uma condição geográfica, convivíamos mais com a família da minha mãe do que a do meu pai. Claro que os víamos com frequência, mas os 30 e pouquinhos quilômetros que separam Gravataí, no Rio Grande do Sul, de Porto Alegre, faziam uma boa diferenças das 3 ou quatro quadras que precisava ir para ver meus avós maternos, logo, eu passei mais tempo entre católicos do que entre Luteranos. Meu pai sempre sempre teve uma visão religiosa mais aberta e passou a adotar os rituais coletivos que minha mãe participava.
Desde a pré-escola, eu frequentei um colégio de freiras, tínhamos reflexão da agenda, e aula de educação religiosa. Eram religiosas verdadeiras, não essas do Youtube que plantam cannabis. Mas sempre foram de uma amorosidade gigantesca. Logo, então, contudo, todavia, entretanto, com uma família predominantemente católica, em uma escola católica, eu passei por todos os rituais católicos: batizado, primeira comunhão e crisma. E para alegria da minha avó materna sou um dos poucos netos crismados, mas crismado! Até aí foram-se uns lindos 14 anos.
Do outro lado do limite da cidade, ali na zona norte de Poa,
moravam meus avós paternos, e na casa ao lado, minha madrinha. Uma mulher
inteligente, e com um pezinho no espiritismo. Hoje acho que ela tem os dois,
mas naquela época, dos altos dos meus 8 anos (sim eu voltei no tempo um pouco,
o texto é meu e vou e volto, se te perder avisa!) era uma das poucas pessoas
que conseguia me explicar algumas coisas que eu vivia.
E assim foi, de um lado a formação tradicional católica, de
outro uma formação aberta. E o tempo passando... Quando eu fiz 15 anos, minha
irmã ganhou da minha madrinha um livro sobre anjos cabalísticos... Não preciso
nem dizer onde o livro fez residência, no meu quarto obviamente. E eu passei a
devorar elementos mágicos e astrais... E assim foi... até que os assombros
começaram...
Se você passou pela puberdade, sabe que além de hormônios ela nos traz uma séria de novas ideias... E eu passei a achar que eu não era normal. Minhas noites eram tomadas por pensamentos que me perturbavam, me tiravam o sono, e eu rezava para que eles sumissem, e às vezes para que eu ficasse louco de vez... Mas nada aconteceu, mas aconteceu.
Fui permitindo um ceticismo crescente, um racionalismo predominante.
Tudo poderia ser explicado. Cada ato, cada demonstração de fé, cada consequência.
Tudo era um elemento da matriz de dominância para nos fazer controlados. Foi mais
fácil assim. Minha fé não tinha respostas para o que eu vivia, via e sentia. Minha
fé era incompleta. E como um projeto incompleto sem tempo para terminar,
coloquei no armário. Até porque, me mostrar crédulo era me mostrar tolo.
E foi assim, até eu conhecer o Cristiano. Por mais que o mundo mostrasse a ele o contrário, ele nunca perdeu a fé de acreditar na magia, no além, no astral. É certo que nos perdemos um pouco pelo mundo juntos. E foi vindo morar na cidade que hoje vivo, que precisei tirar minha fé do armário, vesti-la, e ela me convidou a usá-la diariamente.
Eu estava deprimido, havia mudado de cidade há pouco, perdendo os clientes que havia conquistado nos últimos 18 meses. Focar no empreendimento que nos trouxe para cá era uma opção paliativa, resolvia o bolso, não a mente, nem a alma.
Fomos visitar um espaço universalista, que tempos depois passamos a ajudar trabalhando, e neste dia havia uma palestra em que nos foi dada uma vela para cada um. Fui embora com meu racionalismo uivante, bradando ceticismo. Uma semana depois, sozinho em casa, com lágrimas nos olhos, cheio da vida, acendi a vela em um ato desesperado de socorro, e orei em voz alta uma demonstração de desalento e desespero. Pedi que me escutassem, que dessem colo.
No dia seguinte, uma ligação para eu preencher uma vaga de docente, dois dias depois a entrevista, no terceiro dia a aula teste, no quinto dia a contratação. No meio da minha felicidade, inebriado pelas boas notícias seria natural esquecer daquele dia. Só que não foi assim. Descobri que seu fosse realmente verdadeiro com meus sentimentos haveria resposta da espiritualidade, se eu fosse realmente honesto com minha vontade haveria apoio.
Busquei entender cada vez mais desde então, quase dez anos
se passaram, e eu ainda tenho muito para entender. Ainda tenho muito para
compreender e principalmente para fazer.
E foi com essa experiência que eu descobri a minha
verdadeira vocação, a de despertar consciências e fazer com que aquele brilho
no olho, aquela lágrima que ensaia a estreia, seja de felicidade e realização.
Se com cada dia da minha existência eu puder tocar um único ser, que seja eu
mesmo novamente, estarei feliz e saberei que aquele pranto foi ouvido, e que
agora ao invés de precisar de colo, eu posso dar colo a quem precisa.